terça-feira, 7 de abril de 2009

Há diversidade (adversidade)

No limite da diferença, a intolerância
No limiar da equivalência, a igualdade

De fato não somos iguais, nem um pouco. Somos somatórios de experiências, referências de educação e valores de família e demais ambientes que convivemos; e reflexo de nossas próprias dúvidas e descobertas pessoais. Um volume imenso de questionamentos perenes e que se renovam a cada dia paira sobre um mar de incertezas, onde precisamos mergulhar e buscar lá no fundo, talvez, alguma resposta convincente, que nos alavanque de volta à superfície com uma possível nova percepção sobre este oceano, infindável, misterioso e convidativo da vida humana.

Ter sensibilidade para perceber isso e decidir pessoalmente sobre esta aventura, pulando de cabeça no oceano, é uma incumbência cada vez mais difícil. O grande mal do ser humano é a solidão, mas o grande desafio da sociedade é conviver entre si, com a diferença. Esse paradoxo se reflete num substantivo reconhecido e de várias facetas: a insegurança; que se nos acompanha incessantemente desde que nascemos na forma como enxergamos o mundo e principalmente nas diretrizes de nossa educação –formal, acadêmica ou referencial. Nossos pais nos querem felizes, mas acima de tudo nos querem seguros.

Enxergar no outro semelhante, passível de todas as nossas qualidades e com a mesma capacidade de realização que a nossa é intrigante, e diria, com os valores que aprendemos a cultivar, quase impossível. Num contexto histórico, as diferenças raciais e culturais – presentes na linguagem, vestimenta, hábitos e valores próprios – sempre foram instrumento de subjulgamentos, nunca de equivalência. Mesmo a curiosidade natural no descobrir, não permitiu que os valores humanos sobrepujassem os ideais de sociedades de objetivo materialistas. E instituindo valores locais e idiossincráticos em verdades absolutas históricas, o homem transformou sua insegurança no muro intransponível que oculta às relações humanas baseadas na diferença.

Ser diferente é complementar e não subtrai nossas referências. Nessa composição de características e personalidades surgem grandes times de futebol, com canhotos e destros; importantes movimentos sociais, com profusão nas diferentes classes sociais; extraordinárias bandas musicais, com as habilidades de cada instrumentista e megalópoles como São Paulo, que na ignorância do paulistano médio, não reconhece que a identidade da cidade é a multi-referência.

Entre uma insegurança transformada em arrogância e um desrespeito aos valores e reflexões de cada um tem muito de intolerância. Entre buscar verdades remediáveis pra nossas angústias e olhar o outro com olhar de repulsa, só porque somos diferentes fervilha o caldo grosso e consistente da desigualdade.
E nessa insegurança diária, queremos ser “diferentes”, sendo melhores. Ter o carro diferente, o salário diferente, o relógio diferente e os sonhos diferentes para nós e para toda a humanidade (nosso mundo).

No oceano hipócrita dos mesmos valores, não somos diferentes, possuímos diferença. Por que não conseguimos ser diferentes de dentro pra fora, sem transformar a diversidade sempre em adversidade?

"... e cuidado com esse branco aí parado do seu lado, porque se ele passa fome, sabe como é. Ele rouba e mata um homem, seja você ou seja o Pelé. Você e o Pelé morreriam igual...” (Gabirel O Pensador)

Um comentário:

  1. [Chico Lucas] [www.co-autores.zip.net]
    esqueci o nome, rsrs.

    03/04/2007 10:00


    Realmente "enxergamos" de forma turva todas essas diferenças existentes. E não só no que diz respeito à etnia, classe e tal. Mas também às imperfeições que todos nós possuímos. Cada um com suas particularidades, como disse criolo, pautada em valores e pontos-de-vistas construídos a cada dia. "Viva as diferenças. Mas use camisinha", hehehe. Bom texto, negão. Abs.

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