Acabei de ver na Record – tema para outra reflexão posterior – no programa de auditório comandado por Eliana “Dedinhos” um quadro sobre Tropa de Elite. Com direito a dançarinas caracterizadas com shorts minúsculos em tom verde oliva, boinas... participação do capitão Fábio, o número 2, como entrevistado e trilha sonora original cantada ao vivo pela banda Tijuana.
O que tem demais nisso, além de mais uma inventiva atração dominical da tv brasileira?
O fato é que Tropa de Elite não foi exibido na TV ainda – a Record quer pagar uma fortuna a José Padilha por isso, pra exibir o filme já em Dezembro – e, portanto, não sendo um produto popular, não deveria ser referência de conteúdo para um quadro do domingão da tv, faixa horária mais democrática, onde cabe de tudo e de todos, mas desde que se agrade a maioria que está em casa por opção, ou pela falta de.
Não deveria né... mas todo mundo viu o dvd pirata, antes de sair no cinema. E os mais de 2 milhões que viram no cinema, embora seja um número expressivo para o meio, correspondem a pouco mais de 1% da população desta nação brasileira.
Então chegamos nós ao cerne da questão. O filme é um sucesso. Mas Pirataria é crime previsto em lei, certo? Quem produz e consome compactua com isso age de forma errada certo? Se o filme é um produto de propriedade intelectual, as pessoas que trabalharam nele deveriam receber pela exibição, exposição de sua imagem e conseqüências culturais (vide o programa de Eliana) e sociais (pouco comentadas em minha opinião) geradas pela obra de ficção.
Hipocrisia. Tropa de Elite é um fenômeno popular de audiência, mensurada pelos camelôs de todo o país. Seus atores, expressões, figurino e até mesmo, todo o entendimento real de como funciona a relação traficante sociedade do asfalto no rio, tudo isso, é na sua mediada de sua complexidade, reconhecido hoje pelo brasileiro médio. Aquele que vem comprando dvd na insinuante a R$199,00 e já na saída do shopping adquire seu “primeiro exemplar” audiovisual a 3 conto.
É de fato interessante esse fenômeno. A mídia brasileira de intelectuais inclusive já discutiam o filme, antes mesmo do cinema, e a questão da pirataria, que acabou sendo suplantada pelo sucesso da obra de Padilha, acabou mais uma vez, como exemplo de lição de hipocrisia nossa em relação ao modelo de sociedade e o que nos disseram que é certo e errado.
Não encontramos soluções viáveis, alternativas, transformamos o ato em crime, mas convivemos pacificamente com ele. Reclamamos até, em mesas de bar com amigos reproduzimos discursos, temos até na nossa formação moral opinião formada sobre essas pequenas contravenções, os pequenos delitos...mas alimentamos o sistema, esta instituição. Compra-se na mão de cambista, fuma-se um baseado ali, cheira-se um lança perfume no carnaval, dirigi-se depois de uma cervejinha, joga-se no bicho – esse merece menção honrosa: Jogo do bicho tem banca na rua, financia escola de samba e anuncia em rádio popular. Porra regulariza a zorra do jogo, e águia na cabeça. A regularização obrigará os bicheiros a serem fiscalizados legalmente e com muito mais eficiência – via documentação que passa pela receita federal.
A pirataria é só mais um produto das nossas relações sociais, que envolve acesso a tecnologia e ter algo que gostaríamos por um preço mais baixo, até mais justo.
E não discutimos isso abertamente. O estado faz o papel dele, criando a lei e reprimindo o uso aqui e ali, mas os atores envolvidos, os consumidores, os prejudicados, ninguém participa dessa discussão, ninguém se pergunta como lidar com isso...porque todo mundo quer comprar um filme por 3 reais e do outro lado o camelô precisa comprar o leite dele com formol.
É uma indústria paralela, que funciona a nossos olhos....a tropa consome e a elite faz vistas grossas.
Escrito por Marco às 15h39
terça-feira, 7 de abril de 2009
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[Adla]
ResponderExcluirMuito bom!! Muito bom mesmo!! Parabéns!! Me convida pro lançamento do livro tá?? Bjssssssss
20/11/2007 09:19
[Lidia]
Esse meu amor é retado mesmo, talentoso e bom no que faz. Continue escrevendo e compartilhando conosco suas opiniões, sempre pertinentes e sensatas. Te amo e me orgulho de ser a sua mulher. Beijos!!
19/11/2007 13:16
[Cassio]
Rpz, nao me canso de ler seus texto... sua palavras sempre estao em forma.. Muito sucesso!!!